domingo, 31 de janeiro de 2016

O famoso licor de pitangas do escritor Gilberto Freyre






José Luiz Gomes da Silva


Gilberto Freyre era um homem de muitas amizades. Costumava recebê-las no Solar de Apipucos e brindá-las com um tradicional licor de pitangas, preparado por ele mesmo, com frutas colhidas no próprio quintal da propriedade. Havia um ritual que ia desde a colheita da fruta até o ato de servir aos visitantes, sempre em taças de cristais. Por ali passaram grandes personalidades do mundo acadêmico e político, que vinham se "consultar" com o autor de Casa Grande & Senzala. Edson Nery da Fonseca, uma espécie de biógrafo oficial do escritor, afirma que para todos os questionamentos, ele sempre apontava sua obra-prima como sendo uma fonte de consulta para as respostas. 

Seu maior amigo, possivelmente, foi o escrito paraibano, José Lins do Rêgo, com quem deve ter degustado muito licores. O escritor teria levado para o túmulo o segredo do seu licor. Sem nenhuma dúvida, o ex-presidente Jânio Quadros foi o responsável pelos episódios mais engraçados do folclore político brasileiro. De passagem pelo Recife, logo cedinho, resolveu fazer uma visita ao sociólogo Gilberto Freyre, em sua residência do tradicional bairro de Apipucos. Quando aproximou-se do sociólogo, agachou-se, numa atitude de reverência, balbuciando rasgados elogios, o que deixaria o autor de Casa Grande & Senzala desconcertado. 

Assim que o cerimonial encerrou-se, Gilberto Freyre teria feitos alguns comentários, desaprovando a atitude esquisita de Jânio. Possivelmente, não atreveu-se a oferecer a Jânio o tradicional licor de pitanga que costumava servir a todos os visitantes do Solar de Apipucos. Concluiu que o ex-presidente, apesar do horário, já teria ingerido bebida alcoólica suficiente. O licor de Gilberto, preparado com os frutos das frondosas pitangueiras dos arredores do sítio, ficaria famoso, sempre muito elogiado pelas pessoas que o experimentaram. Depois da morte do sociólogo, que teve sua residência transformada em Casa Museu, a tradição teria sido mantida pela família. 

Há de se estranhar, portanto, as declarações do jornalista Joel Silveira, num documentário realizado pelo repórter Geneton Moraes Neto, afirmando ser este hábito o mais esquisito já presenciado por ele, além do seu desconhecimento sobre a pitanga, uma fruta saborosíssima,da caatinga nordestina, muito utilizada em sucos, sorvetes e licores. 


Como citar este texto:


SILVA, José Luiz Gomes da. O famoso licor de pitangas do escritor Gilberto Freyre. (crônica). Pesquisa Escolar do Nordeste. Disponível em http://pesquisaescolardonordeste.blogspot.com. Acesso em: dia, mês e ano. Ex. 20 set.2015

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